segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Freegans


Há alguns anos, num momento oportuno, em que eu cultivava barba e "idéias revolucionárias", conheci os vegans, esses que, além de não consumirem nenhum produto de origem animal, desprezam tudo o que seja testado nos bichos. Os vegans, que, embora, o nome se pareça com aqueles dados a criaturas más dos jogos de RPG, pregavam uma ideologia regada de paz, amor e muita alface.

Sempre apoiados em histórias com animais no papel principal, um deles me contou a de um cavalo, um andaluz, que chorou ao ouvir seu vizinho de baia emitir rinchado estranho enquanto virava bife. Depois de ouvir a comovente história, decidi que a partir de então eu não comeria nem carne de pangaré, entendi que seria um vegan (ou um "natureba", como seria chamado por aí)... até chegar o dia do churrasco na casa do tio Ermínio.

Após anos de muito cupim, coxa, fraldinha, picanha, costela..., soube por uns e outros que aqueles vegans tinham ganhado novo nome: freegans, e que, agora, além da ideologia, procuravam por meios alternativos de sobrevivência, na tentativa de burlar o sistema capitalista, até que se vissem livres dele. Frees, saca?

Quando a fome apertava, eles surgiam nos finais das feiras de rua atrás de tomates (pouco amassados), bananas fora do cacho...; nos lixos, reviravam aqui e ali, e lá estava uma peça de roupa ou algum utensílio doméstico. Dizem que uma deles até moto chegou a trocar pelo ecológico skate; já um outro, desfez o nó na gravata italiana e foi vender livros e camisetas na Alameda das Flores, em São Paulo. Sim, os freegans, (embora irritados com este rótulo que deram a eles) iam muito bem, estavam felizes e de consciência limpa, virando-se como podiam, à margem da economia.

Mas, em toda comunidade, por mais libertária que seja, figuram os fanáticos. Esses coitados, que de tanto se apegarem a discursos subjetivos, acabam por se "enforcar na mesma corda da liberdade" que pregam. Acontece que, lá pelas bandas do ABC, onde alguns freegans dividem um casarão desabitado, soube que chegou um rapaz novo para ajudar com a feira. Aproveitando-se das linhas tortas da cartilha freegan, o esperto rapaz burlou esse "sistema" para fugir da responsabilidade. Disse que abandonou a namorada (ainda de barriga) depois de saber que na carne dela havia produto industrializado. "Silicone, tsc, vê se pode!"

20 comentários:

Anônimo disse...

Fabio!!!
ótimo o texto
Gostei muito.. é bem engraçado e informativo.
Agora não sei se eu to vivendo no mundo da lua, mas nunca ouvi falar destes "Freegans".

Beijão e Parabéns
Bárbara

Alexandre disse...

Olá Fábio, espero que se lembre do professor de História da Comunicação. Parabéns pela iniciativa e por ter encarado a tarefa.

Uma vez fiz uma reportagem com um veegan. Enquanto ele falava não podia deixar de notar que a pele dele era até cinza e a fala mole.

Também fui (e me considero até hoje) adepto das revoluções. No entanto, não vejo nessa postura uma real preocupação de mudar as coisas e mais uma reação unilateral ao tal "Sistema". Mas cuidado com as reportagens sobre qualquer ideologia. Os jornalistas adoram achar um elemento "torto" para justificar o apedrajamento.

Vou acompanhar a evolução do projeto.

Anônimo disse...

Impressionante como eu fico sem palavras com seus textos...
Se todas as vezes vc demorar pra depois colocar um texto como esse, prometo que espero todinhas as vezes, ok? rs...
Mal posso esperar pelo próximo.
beijo!

Unknown disse...

É... o negócio tá ficando bom. A lojinha está trazendo novos clientes. Nada melhor do que uma propaganda boca a boca, não?
Até o prof. Alexandre veio comentar... aliás, acho que o comentário dele está de parabéns.
Também nunca ouvi falar dos veegans, ou freegans, mas me lembro quando você tentava convencer os outros que o MacDonald´s era obra do capeta... ou coisa do tipo. Só faltava mesmo você ir juntar as laranjas lá na feira da Sta. Rosa de Lima.

Abraço e boa sorte irmão!!!

Iobaf´ disse...

Aê, pessoal, muito obrigado pelos comentários! Espero que continuem assim (falando bem ou mal). (rs)
Gostaria de fazer um rápido esclarecimento sobre o último parágrafo... Não tenho nada contra os freegans, os vegans... nada, juro! Só quis (no final do texto), mostrar o outro lado, e que, por mais pacífico que seja o discurso dessas comunidades (que vem ao caso neste texto), existem TAMBÉM os fanáticos. E é aí que entram os "espertinhos" (do texto) e se aproveitam da miopia desses outros pobres fanáticos.
É, o negócio aqui é sem açúcar, fazer o quê? (rs)

Anônimo disse...

Oi, Fábio.

Demorou, mas sobrou um tempo para a crítica.
Bem, não poderei falar mal porque o Marcorélio vai brigar comigo.
Você tem o dom, tem o talento, tem boas idéias, sabe desenvolvê-las bem. Seu texto flui, é uma delícia lê-lo.Há um tom irõnico, sutil, muito sutil, que me encanta, porque não é a crítica panfletária, chata, cri-cri, é a crítica inteligente, do bom humor.
No entanto, há ainda um lapidar necessário em seus textos. Um bom escritor não se constrói pelo rigor gramatical, mas um cuidadinho com a língua revela um escritor estudioso. Os erros que encontrei, vou comentar em off, ok ?
Exercite-se, escreve e estude, afinal, seu que vc. deseja ser profissional.

Beijos e vamô lá para o próximo.

Mari Bortz disse...

Esse intervalo entre as atualizações é interessante. Fico aqui na espreita e de repente, na mais despretensiosa das visitas “Ai! Num acredito que tem texto novo!” rs. Muito bacana o jeito que vc abordou o assunto. Me lembrou aquela tirinha do Calvin fazendo prova de matemática: “não posso responder a essa pergunta, minha religião não permite”.
Bjo.

wolverine disse...

Fio, o que dizer?
primeiramente agradeço a visita que me fez;
Agora o principal, eu nunca oubi falar deste grupo, porém pude compreender bem o que quis dizer, sobre como eles agem, como vivem e também, que existem pessoas que querem se passar pelas espertinhas usarem qualquer desculpa para fugir da realizade e responsabilidades.
Sou uma pessoa que vive buscando alternativas e lutando pelos direitos que temos, sem fugir dos deveres que também temos. Considero seu texto muito bom e ilustrativo, pois vai além de uma ideologia e sim sobre um exemplo (pelo menos ao meu ponto de vista).
Parabéns fio, adorei de verdade seu texto!!!!!!

Mal posso esperar pelo próximo!
Edu

Unknown disse...

Eu gosto dos seus textos mais do que o primeiro café do dia...
Grande Fabio..saudades amigo!

Anônimo disse...

estou esperando o próximo texto...

Nilda Miranda disse...

Amigo,
Que graça ler seus textos este último falando dos vegans....e olha que eu fui em várias palestras....assisti o vídeo " a carne é fraca" e senti o mesmo!!!
Escreve muito bem, realmente é o que nos faz pensar que existe em seus textos.
Parabéns!!
Obrigada por este café delícioso.

Anônimo disse...

Fabio

Adoroooo!

Vc está cada vez melhor.

Beijão

Luciana

wolverine disse...

fio atuzalizado ;)

Brasileiro disse...

Gostei de seu conto do mecanico que coloquei no meu blog com o link do seu blog e seu nome. Se te incomodar me avisse que eu tiro. Você escreve muito bem.

Iobaf´ disse...

Não vejo problema. Mas quem é você? Qual o endereço do seu blog?

Muito obrigado!

Unknown disse...

É, finalmente bati, entrei, e saboreei o meu primeiro expresso no Fabinhu´s Café. Quem, mas quem diria!! ao meu lado encontrei uns Freegans, mas não tomaram nada pois não seriam politicamente corretos!!!

Informativo,claro e objetivo, com três pingos de adoçante sarcástico, ótimo texto primão.
Prometo voltar mais vezes e depois de mais um gole aí sim, irei para o próximo: O Famoso "O mecânico"...

Apenas por curiosidade, já li algumas coisas sobre os Freegans, eles fazem muito sucesso na Europa e são naturalmente de famílias de classe média. Bem organizados, possuem até sites informativos e uma doutrina própria de vida com todo um cuidado social. Atualmente também se juntam a novos grupos parecidos com os nossos "sem terras" e "sem tetos", os chamados "okupas".

Zúnica disse...

E aí, Fábio, não vai mais escrever para o projeto? Fiquei ansioso para ler teu novo texto, depois de ter me impressionado tanto com os anteriores

Iobaf´ disse...

Grande, Zúnica (estou te devendo uma visita, meu caro!), estou fora do projeto por um tempo. Mas, até o final do mês eu prometo postar algo novo.
Abs!

Iobaf´ disse...

Que "Fabrício", mano? Você é o Leandrow, meu "brothá", meu primo (fazer o quê?) e uma de minhas personagens no próximo exercício, o texto "É de chorar". (Aguardem!)
É o mesmo Leandrow, que quando invocado por mim - assim mesmo, com "w", no palco do Festival do D. Pedro, fez meninada vibrar com o solo de "Tears of the dragon". Bons tempos, hemm, mano! Fiquei muito feliz de ter passado por aqui! Bijunda!

Leonardo Ferlin disse...

Escrever não precisa né?
Ow mulambo, to de blog novo, apaga o rockdaily daí.
Agora é www.videoniac.blogspot.com

Tem muito mais vídeos e dicas de artistas e tudo mais.